«Um dos interlocutores figurados por Manuel Gomes de Lima Bezerra nos  Estrangeiros do Lima, fala desta forma a respeito a estudiosos de genealogias: «Não posso sofrer que haja no mundo homens tão desgraçados que se martirizem com o estudo da árida e fastidiosa genealogia».

De mim, lavado nas lágrimas do martírio, digo que sou um daqueles desgraçados! Ao princípio lia manuscritos genealógicos para adormecer; depois entrei-me no gozo de saber das vidas alheias; finalmente paguei cara a curiosidade, convertida em paixão viciosa; e, agora, sou chegado ao período de mártir. Ando a pedir a toda a gente que teve avós o favor de me deixarem saber a vida deles, se a escreveram.

O pior é que dos nossos avós raro foi o que escreveu de si, porque, tirante os nossos avós frades, nenhum sabia escrever; e por cada um que perpetuava a sua memória, graças ao milagre da escrita, outros morriam estúpidos e inteiros aos milhares contra o non omnis moriar, do lírico romano»

Camilo Castelo Branco - «Cavar em Ruínas» 
Página de Francisco Pinto dos Santos Brito